quarta-feira, 7 de abril de 2010

Orquídea

Não desejo-te quão lírio lírico, orquídea ou
tocha de cores incandescestes que alastram a flama:
consumo-te como consumam-se certas coisas ordinárias,
sigilosamente, entre os fantasmas, a cólera e a alma.

Desejo-te quão a casta semente que não abrolha,
leva intrínseca, encoberta, a vivacidade das flores,
e por teu desejo, preservei oculto, denso
o estreito perfume que elevou-se do chão.      

Almejo-te sem saber quão, nem onde, nem porque,
almejo-te demasiadamente sem enigma, culpa, soberba:
assim almejo-te por não saber amar d’outra maneira.

Senão assim deste modo em que não sou teu nem tu és minha,
porém, tão perto que tua boca, pernas, pelos, seios, anca, sou eu,
tanto junto que meu calor em tuas mãos, minhas, são suas.


Por Léo Jorge


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